Viagens

    Quando um flanneur brasileiro encontra um dos carrascos da Copa de 50


    Calou o Maracanã em 50

    Em janeiro de 2011, eu e Márcia fomos a Buenos Aires acompanhados de Gabriela e Louise. Naquela ocasião, eu não me preocupei nem um pouco com a programação da viagem, confiando às garotas a tarefa de elaborar o roteiro. Marinheiro de primeira viagem em viagens para o exterior, acatei aquilo sem problemas e gostei bastante das escolhas que elas fizeram.

    Acontece que voltei daquela viagem decidido a ser mais proativo no planejamento das minhas próximas investidas fora de Natal. Em quase todos os destinos para os quais fui a partir de então, me envolvi bastante na pesquisa sobre os lugares, chegando mesmo a gostar daquela tarefa.

    Um misto de preguiça e desprendimento me fez despreocupar com o planejamento do que faria em Montevidéu. Cheguei a pesquisar em várias fontes, de blogs a vídeos, mas acabei sem sistematizar as informações que colhi em algo como um roteiro. O resultado é que cheguei com uma impressão geral sobre o que fazer na capital uruguaia, mas não tenho a menor ideia do que faremos em cada dia.

    Em nosso primeiro dia completo em Montevidéu, iniciamos o dia - já perto do início da tarde - com uma exploração do Centro. Tomamos um ônibus, cujo motorista nos avisou quando descer para que estivéssemos próximos à Cidade Velha.

    O ponto de partida que escolhemos foi a Praça Independência, um dos cartões postais da cidade (não que isso me valha alguma coisa). De cara, chamou-me a atenção a sobriedade do prédio em que está sediada a presidência do país. Funcional e de uma beleza discreta. Provavelmente, estou chegando ao Uruguai com visão exageradamente positiva, dada a desesperança que gira em torno da situação político-econômica do Brasil. Mas é impressionante constatar como um país de formação histórica semelhante à brasileira, funciona minimamente.


    Imediações da Praça Independência. 29 de junho de 2017

    Andamos meio aleatoriamente pelo Centro, no intuito de chegar ao Mercado do Porto, onde almoçaríamos. Entramos pelo portal da Cidade Velha e seguimos por uma espécie de passeio público margeado por lojas instaladas em prédios antigos.

    A primeira parada mais demorada foi na Praça da Constituição, na qual se destacou uma espécie de igreja matriz. Não foi difícil constatar a influência espanhola no estilo arquitetônico daquele edifício católico. Construção horizontalizada e sobriedade na forma que remetem diretamente às paisagens coloniais do norte do México.

    Na sequência, seguimos o caminho e chegamos ao mercado do porto. Eu esperava um lugar mais caótico e inóspito, mas encontrei outra realidade. O calor das churrasqueira dos restaurantes funcionam como aquecedor para o inverno da cidade. Realmente, é de se imaginar que durante o verão a sensação não seja das melhores. Como o objetivo daquele almoço era ir a um bom lugar de carnes, escolhemos a primeira churrascaria que parecesse agradável e me surpreendi com a qualidade da comida.

    Saindo do mercado, optamos por seguir em direção à 5 de julho, onde se localiza boa parte do comércio de rua da cidade. Fiquei impressionado com a quantidade e variedade de lojas, mas logo relacionei essa característica à timidez do Punta Carretas Shopping. Aproveitei o deslocamento e parei na Antel, a estatal de telecomunicações do país. Ainda na Cidade Velha eu havia comprado um chip pré-pago da operadora e não consegui fazê-lo funcionar. No fim das contas, entendi como funcionava o processo, mas por alguma razão os meus créditos acabaram bem antes do que eu imaginava.

    Eu, Márcia, Nina e Gabi optamos por voltar caminhando para o nosso Airbnb e foi uma ótima experiência, já que cruzamos a fronteira entre o Centro e uma área mais residencial da cidade.

    Chegamos por acaso a um ponto turístico da cidade: uma daquelas grades onde turistas abobalhados prendem cadeados. Na mesma esquina havia uma estátua de um dos carrascos brasileiros na Copa de 1950: Giggia. Também estávamos em frente a uma sorveteria na qual decidimos entrar. Sorvete ok. Mas o melhor dessa pausa foi poder observar, sem ser visto, um mexicano assistindo a semi-final da Copa das Confederações entre o seu país e a Alemanha. Sou bastante curioso para ver como pessoas de outros países lidam com as questões que me interessam. Futebol certamente é uma delas.

    Após isso, caminhamos cerca de 1h30 até chegarmos a nossa hospedagem. Excetuando-se uma ladeira ou outra, flanar pela capital uruguaia é, sem duvida, uma experiência que pretendo repetir outras vezes.

    Montevidéu pela primeira vez


    Minha rua em Montevideu pelos próximos 6 dias

    Sobretudo pelo meu gosto por futebol e pela seleção uruguaia, há muito tempo cultivei uma curiosidade sobre Montevidéu. Depois de alguns dias em Santiago, hoje chego na capital uruguaia cheio de empolgação.

    Impressões sobre como os chilenos lidam com o passado autoritário


    Estátua de Salvador Allende, no centro de Santiago (foto minha)

    Ainda em êxtase com a visita que fiz ontem ao Museu da Memória e dos Direitos Humanos, aqui em Santiago. O museu é focado na ditadura militar chilena, mas também denuncia situações de violação de direitos humanos em outras partes do mundo, incluindo o Brasil. O museu é imponente e extraordinário, e a mostra permanente sobre o regime militar no Chile é forte. Mas uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a velocidade com que aconteceram as comissões da verdade tanto no Chile quanto na Argentina.

    No primeiro, já aconteceram três comissões ou formas similares de apuração dos abusos da ditadura, a primeira ainda nos anos 1990. Na Argentina a Comissão aconteceu ainda na primeira metade dos anos 1980. Por aqui parece que os chilenos tratam a questão de uma forma razoavelmente apartidária, não importando quem esteja no poder.

    Reflexão importante num momento em que, no Brasil, o “Fla x Flu” político que vivemos tem levado muita gente ao absurdo de relativizar os abusos e violações da ditadura brasileira.

    Além do museu, a comissão chilena criou outros espaços de memória e monumentos espalhados pelo país para que a reflexão sobre o regime não pare.

    É o caso da foto desse post: uma escultura de Allende (deposto pelo golpe), que fica localizada no centro de Santiago.

    Paris e frio de verdade pela primeira vez

    Muito nova essa sensação de estar em um lugar tão longe e diferente de casa.

    Chegamos a Paris ontem, próximo das 19h. Nosso voo saiu de Natal às 2h da madrugada e após 6h30 de viagem, chegou à Lisboa no começo da tarde. Desembarcamos para fazer a conexão que nos levaria à França e já tive a minha surpresa. Ao comentar com Márcia que o ar condicionado do aeroporto lisboeta estava muito frio, tive como resposta: “menino, isso não é o ar condicionado. É o frio da cidade, mesmo”. Até então as experiências em que eu mais tinha sentido frio foram no Rio de Janeiro e em Paraty, em 2008, e que não foram abaixo dos 15º.

    Após a conexão, desembarcamos pouco depois em Paris, na noite de Natal, mais exatamente no Aeroporto de Orly, eternizado por Chico nessa bela peça.

    Tomamos um trem até a Gare du Nord, e de lá, um metrô até as proximidades do hotel em que ficaríamos hospedados. A primeira impressão de caminhar pela cidade foi de estranheza, já que Paris estava deserta nesse 24 de dezembro. Tivemos alguma dificuldade para localizar a nossa hospedagem, mas após improvisarmos (sobretudo Márcia) no francês com um taxista e com alguns locais em um restaurante onde entramos para pedir informações, chegamos ao nosso destino. Fomos surpreendidos por uma francesa que nos ajudou com as direções quando, após dizermos que vinhamos de Natal, ela falar que já esteve em Pipa.

    Após isso deixamos as bagagens, trocamos de roupa e saímos pra procurar um lugar para jantar, o que não foi assim tão fácil já que muitos estabelecimentos exigiam reserva prévia para a noite de Natal.

    Chegando agora ao Aeroporto Augusto Severo. Daqui há algumas horas embarco com Márcia para a nossa primeira vez na Europa. Ao todo passaremos 24 dias entre a França, Itália, Alemanha e República Tcheca. Ansiedade à mil para conhecer o Velho Mundo.

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