Há um tempo, quando eu devia ter uns 15 anos e ainda sonhava em ser jogador profissional de futebol, tive a chance que esperava para chegar ao estrelato. 
Não importava se até então eu havia reprovado em todos os exames para a equipe de futebol do colégio, ou se eu era reserva do time de futsal da minha rua, mesmo levando em consideração que o meu pai era o técnico. Eu estava decidido participar do “peneirão” do Vitória da Bahia, naquela manhã de domingo. 
Se não me falha a memória, fiquei sabendo da notícia através do globo esporte do sábado anterior. Corri e pedi o aval do meu pai para tal empreitada. 
No dia anterior, mal consegui dormir. Passei a noite pensando como seria a minha nova vida em Salvador. Já tinha até traçado o meu caminho: após passar no peneirão do vitória, ficaria naquela equipe por mais 3 anos; aos 18 seria contratado pelo Corinthians, e dois anos depois pelo Vasco; aos 20 anos, começaria a receber propostas dos maiores clubes da Europa, mas só aceitaria a milionária que o Real Madrid faria; participaria da copa de 2002, sendo eleito o melhor jogador e no ano seguinte abandonaria o futebol para trabalhar como garoto propaganda das maiores marcas do planeta. 
A reação da minha mãe, ao receber a notícia que eu participaria do teste, foi bem interessante. Não esperou muito e foi falar com o meu pai: 

- Luis, não deixe esse menino ir fazer esse teste. Imagina se ele passa e vai ter que morar fora. Ele não vai se acostumar, eu não vou me acostumar... 
- Calma, mulher. Não se preocupe! Eu assino embaixo. Não é dessa vez que ele vai morar fora de casa. 

De fato, as expectativas do meu pai se confirmaram. Já no “peneirão”, joguei exatos 10 minutos, pois assim com eu, cerca de 100 garotos foram ao campo de futebol da UFRN com o estrelato como objetivo. 
Voltei para casa cabisbaixo, mas já possuía um violão para o meu consolo. 
Hoje em dia ataco como peladeiro profissional, apesar de não agüentar jogar mais que 30 minutos seguidos.